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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tatus-bola

Tatus bola - www.samuelbonette.blogspot.com Essa foto ao lado foi tirada há quase um ano. Bom, para quem não conhece, esse é um tatu-bola, bicho que parece estar em extinção. Bom, esse não é um fato científico, pelo que sei, pois não devem haver cientistas muito preocupados com o surgimento ou desaparecimento da população mundial de tatus-bola. Afora essas considerações sobre a cientificidade da existência dos tatus-bola, eu não tenho visto tatus-bola tão frequentemente, e quando me deparei com um espécime raro (pelo menos para mim), me vi obrigado a registrar o momento em uma fotografia.

É engraçado que eu não tenha mais visto tatus-bola. Talvez eles estejam reunidos em algum lugar do mundo aguardando o momento de tomar de assalto o planeta e instituir a Ordem Mundial dos Tatus-Bola; talvez estejam nesse lugar se reproduzindo a fim de garantir a sobrevivência da espécie; talvez eles estejam simplesmente camuflados em meio à poluição do mundo moderno, visto possuírem uma cor acinzentada. Mas o mais provável é que eles estão por aí, onde sempre estiveram, e eu não os tenha visto, por não reparar nos lugares onde eles normalmente estão, lugares escuros, úmidos, um pouco escondidos.


Não, eu não estou louco. Eu não acho que seja, de fato, importante saber onde estão os tatus-bola (muito embora não ache fútil); o meu interesse neles se dá porque eles foram algo importante na minha infância. Podem rir o quanto quiserem, mas assim como todos têm algo que foi importante na sua infância, os tatus-bola foram importantes na minha infância; ainda me lembro como era engraçado achar uma colônia de tatus-bola embaixo de um tronco ou de uma pedra, e ficar observando-os. 


Lembro que eles me pareciam miniaturas de fuscas, porém com pernas, e sem pára-brisas. Aliás, as pernas deles me chamavam a atenção sobremaneira, pela coloração e o modo do movimento. Não raras vezes eles se fechavam ao pegá-los. Após um tempo na palma da minha mão, eles suspeitavam que estava tudo tranquilo, e retornavam ao estado normal; aí eu fazia eles caminharem por longo tempo na minha mão, indo de uma palma para outra. Muito me diverti com os tatus-bola.


Bom; o mais importante não são os tatus-bola em si, mas sim, o significado que eles têm para mim. Eles representam um tempo de diversão constante, um tempo de falta de preocupações mais sérias do que as necessidades básicas. Mais que tudo, um tempo de inocência.


E, engraçado, assim como os tatus-bola estão sumindo, a Humanidade também está perdendo algumas coisas que são importantes. A simplicidade das pequenas coisas, que trazem muita felicidade, coisas que não se podem comprar, como confiança, amizade, uma reunião com os amigos, um bom churrasco, está desaparecendo. E mais: a gentileza com um desconhecido, a confiança no próximo, e, de uma forma geral, os atos das pessoas com relação às outras, que não são seus parentes ou conhecidos, estão sumindo, nos transformando em selvagens, em incivilizados.

Bom seria se achássemos, todos, os nossos "tatus-bola", e retornássemos à inocência das nossas infâncias, nos tornando, assim, criaturas melhores, seres humanos melhores.... mas como isso não está em nós, pelo menos por breve momentos podemos ser assim, quando encontramos nossos "tatus-bola".
Samuel Bonette