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terça-feira, 21 de abril de 2009

É pelo princípio

Princípio Aprendizado Vida Simpsons Burns - www.samuelbonette.blogspot.com
Todos sabem que roubar um chiclete não faria mal a ninguém; o comerciante não ficaria mais pobre, nem o ladino mais rico. No entanto, ensinamos nossas crianças que não se deve roubar nem mesmo um chiclete, por um motivo somente: o princípio. Há um episódio dos Simpsons em que Homer se demite do seu emprego de inspetor da usina nuclear do Sr. Montgomery Burns. Passado algum tempo, pelo fato de sua esposa Marge engravidar, ele volta à usina nuclear para tentar reaver seu antigo emprego. Então, o Sr. Burns o faz ir agachado por um caminho humilhante até sua sala, e o obriga a trabalhar por algum tempo gratuitamente, ao que o Sr. Smithers se opõe, objetando que ele só estava voltando devido às suas dificuldades financeiras. Então o Sr. Burns diz a célebre frase: É pelo princípio.




Sim, essa causa primária, por vezes relegada a um papel secundário em nossos tempos, é o que deve nos nortear em nossas escolhas. Nossas escolhas são baseadas em princípios, embora por diversas vezes usamos princípios múltiplos - e por vezes contradizentes - para fazermos nossas escolhas. Frequentemente somos incoerentes, por não pensarmos nas implicações daquilo que adotamos como princípio. Não raras vezes eu vejo pessoas defenderem duas idéias totalmente contrárias em um pequeno espaço de tempo, devido à não consideração das implicações dos princípios utilizados para defenderem suas idéias; se uma pessoa defende a não-violência do direito à vida, por exemplo, ela deve defender esse direito para todas as pessoas, inclusive para aquelas que violam esse direito. Se a pessoa julga como errado roubar um milhão de reais, deve ser contra o roubo de um centavo, também. Se é contra a discriminação, não deve defender cotas para negros. Se não perdoa, não merece ser perdoada, e assim por diante.




Mas não gostamos disso; gostamos de condenar fortemente aqueles erros maiores, e, nos menores, fazemos vista grossa. Ou então, confundimos tudo e agimos incoerentemente, sendo ora relativistas, ora moralistas, ora utilitaristas, ora fundamentalistas. Parece ser mais fácil e conveniente dançar conforme a música, fazer aquilo que a opinião pública determina, ou aquilo que a mídia exalta. E a mídia é boa nisso: transformar o certo em ridículo, e o errado em fashion; uma emissora de TV, por exemplo, tem um jornal em que mostra as desgraças causadas por uma estrutura familiar fraca, e critica esse comportamento, mas antes e após esse mesmo jornal tem programações em que mostram filhos se rebelando contra pais, maridos traindo suas esposas, casais que fazem sexo livremente, etc. Mas qual é o posicionamento dessa emissora, afinal? É o posicionamento de dançar conforme a música, ao qual estamos aderindo, mesmo sem perceber.




Para ser coerente, é necessário adotar um princípio, e agir sempre dentro dele, seguindo suas consequências até o fim. Um belo princípio é esse: amar o teu próximo como a ti mesmo. Esse princípio foi proferido por Jesus, e Ele é o maior exemplo de comportamento coerente que já houve nesse mundo. Em tudo, Ele agiu segundo o seu princípio, inclusive quando corrigiu aqueles que amava, pois quem ama corrige, e um dos predicados do amor é a justiça, sendo que para ser justo, é necessário agir dentro de um mesmo princípio. Um bom princípio levará a um bom fim, da mesma forma que um mau princípio levará a um mau fim, ainda que talvez a longo prazo. Não é difícil ser coerente; por vezes, é doloroso, mas em momento algum é difícil. Agindo coerentemente, seremos respeitados; incoerentemente, seremos ridicularizados; amorosamente, seremos amados.




Samuel Bonette