Lembro-me
de uma crônica, de Fernando Sabino, entitulada “A última crônica”. Li a
mesma quando tinha 11 ou 12 anos, mais ou menos, e dela nunca mais me esqueci.
Creio que pude compreender tão bem o sentimento do autor que me apoderei dele,
e também persigo esta última crônica. Não sei se ele escreveu outras após esta,
mas para mim, esta sempre será a derradeira.
Para
mim, sempre que escrevo, gostaria de poder transmitir a intensidade e a leveza
de uma última crônica. Entretanto, seguindo um conselho de meu amigo Raginho,
procuro não escrever mais do que uma página. Difícil, devo admitir. Entretanto,
para mim torna-se um excelente exercício de auto-controle.
Aliás,
acho engraçada a forma como lido com meus sentimentos. Já fui chamado de androide,
porque, segundo a definição dada pela pessoa, eu tenho sentimentos, mas não consigo
expressá-los. Creio que por vezes me falta isto mesmo. Talvez meu auto-controle
seja mais aguçado para meus sentimentos do que para meu gosto por escrever, ou
simplesmente escrever seja minha forma de extravasar. Não sei.
Ainda
há pouco olhava um filme, por nome O Aprendiz, no qual um general nazista, após
esconder-se por muitos anos, é descoberto por um jovem que desenvolve um
relacionamento com ele. Aos poucos as lembranças vão despertando sentimentos há
muito tempo escondidos, sentimentos estes que vão causando um certo descontrole
emocional. Em um momento do filme, ele adverte: estás brincando com fogo,
rapaz.
Isto
acende um alerta no que diz respeito ao que alimentamos ou afastamos de nós.
Como diria Thomas Hobbes, o homem é lobo do homem. Na medida que vamos atrás de
informação sobre determinado assunto, procurando, buscando aquilo, evidenciamos
o assunto e as consequências destes atos em nossas vidas, seja a glória ou a
ruína que aquilo nos traz.
Sabem
o que mais? Relendo este texto, fico com um gosto de quero mais; fico com um
sentimento de que poderia sobejar ainda mais estes assuntos. Entretanto, em um
determinado momento da minha vida entendi que não podemos e não devemos querer
saber tudo na vida, pois isto implica em certas responsabilidades e numa perda
pelo gosto que o desconhecido nos traz.
Samuel Bonette
Samuel Bonette