Tenho
adquirido um hábito, pelo que me consta: escrever nos domingos a noite.
Escrever a noite já era uma predileção, mas tenho notado que o domingo a noite
me atrai de forma especial. Até então não havia feito nada de forma
propositada, mas parece que esta será a tendência. É um bom dia para se
escrever. Nada melhor do que produzir nesta noite que até então era considerada
monótona e simples antecedente de uma semana que será corrida, sem dúvida.
Sobre
o que tenho a escrever hoje, é até interessante que seja feito num domingo a
noite, pois combina com um quadro apresentado recentemente no programa
Fantástico; não sei se ainda está sendo apresentado, pois assisto apenas
fortuitamente o referido programa, mas o nome do quadro é Phantasmagoria; em
uma das poucas vezes que olhei, os apresentadores falavam sobre nossa visão, e
como as imagens se formam no cérebro. Falaram também sobre as ilusões de ótica
e de distorções de percepções que nos ocorrem, especialmente em casos de pouca
luminosidade ou situações nas quais estamos sob forte pressão.
Tal
fato dificilmente ocorre quando vemos uma imagem refletida em um espelho. A
imagem projetada é imediatamente reconhecida como a nossa própria imagem,
diferentemente de quando olhamos a imagem de outra pessoa, animal ou objeto; o cérebro
está fadado a associar a nós mesmos aquela forma avistada no espelho. Sabem,
não sei se vocês pensaram nisto em algum momento de suas vidas, mas eu já fiz o
exercício de, ao focalizar minha imagem no espelho, tentar imaginar que aquele
reflexo é na verdade outra pessoa. É uma tentativa de enganar o cérebro que
quase nunca logra êxito.
Entretanto,
algumas vezes consegui; poucas, é bem verdade, mas já consegui. Não posso deixar
de negar também que foi um pouco assustador, pois me ocorreu que, se aquilo
fosse verdade, poderia estar vendo em mim mesmo outra pessoa. Aí meu cérebro já
fez um monte de inferências sobre psicopatia e doenças mentais e rapidamente
abandonei o reflexo. Coisa de louco.
Mas
é triste que nem sempre temos um espelho em nossa frente para nos visualizar no
dia a dia; com ele poderíamos nos dar conta de nossas atitudes. Digo isto
porque é incrível como não nos percebemos em nossas atitudes; isto não acontece
o tempo todo, mas acontece com todos, invariavelmente. Aquela pessoa que se
acha tão divertida não é assim para seus amigos; antes, é o inconveniente e “mala”
do grupo; o profissional que se julga tão competente e dono das respostas é na
verdade um fanfarrão; o infeliz comentário sobre um jogador acaba com a
reputação de um dirigente de futebol e divide um time no meio da temporada; são
inúmeras situações que destroem a nossa imagem perante os demais. É triste
quando não conseguimos administrar isto.
Por
isto sempre digo: menos, as vezes, é mais. É sempre bom fazer uma avaliação
antes de agir para que depois possamos olhar e nos reconhecer na imagem refletida
no espelho da vida.
Samuel
Bonette