Boa
noite amigos. Como é bom tirar férias e descansar. Retornei há pouco ao
trabalho árduo e dignificante, o que também me possibilita pagar minhas contas,
não nego. Entretanto, realmente gosto do que faço; como é bom trabalhar com
paixão pelo que se faz!
Lembro como se fosse hoje do dia em que decidi
trabalhar com Recursos Humanos: estava viajando com meus pais na Free-Way, trajeto
Torres – Porto Alegre, no dia em que nos mudamos para a capital dos gaúchos.
Era um dia de muitas expectativas, pois estava indo para a “selva de pedra” que
ao mesmo tempo era a terra das oportunidades; então, no banco traseiro – onde me
encontrava – achei, entremeio a tantas outras coisas, um pequeno livro de capa
azul chamado Administração de Pessoal e Recursos Humanos, da editora Senac.
Apesar do mesmo contar com apenas 45 páginas, logo após a leitura este definiu
naquela tarde meu futuro profissional. Tenho este livro até hoje, mas não sei
exatamente o que diz nele; nunca o reli. Porém ele me impulsionou a querer
trabalhar com RH; na época raciocinei que para conseguir era necessário fazer
curso superior em Administração de Empresas e também corri atrás disto. Daí
decorrem inúmeras situações na minha vida, mas não é o momento de ficar falando
sobre isto; um dia eu conto para vocês.
Fato é
que um livro de 45 páginas foi capaz de nortear minha vida profissional. Um
pequeno livro foi capaz de causar muitas coisas na minha vida; isto me leva a
pensar que o escritor me vendeu muito bem o seu peixe, como diz o ditado;
talvez houvesse em mim alguma pré-disposição a inclinar-me para esta profissão,
mas quem escreveu o livro conseguiu me convencer que era isto o que eu deveria
fazer.
Há pessoas assim: algumas que vendem e outras que compram. Conheço
pessoas que vendem o tempo todo: estão sempre vendendo algo a nós; ele não tem
uma TV, ele tem uma TV de LED da Samsung de 52 polegadas Full HD e que está
integrada a um home theater em uma sala projetada para ser acusticamente igual
a um cinema; o seu carro é melhor porque pagou R$ 102.309,45 a vista na
concessionária mais badalada da cidade, aquela onde o cliente é saudado com
coquetel de canapés e champagne; ou então é melhor porque é do mesmo ano mas
ele pagou mais barato e está melhor conservado, tendo inclusive todas as
revisões feitas na concessionária; a comida que ele faz é a mais saborosa pois
é feita com azeite de oliva extra extra virgem de Israel, as azeitonas são colhidas
no Camboja ao amanhecer e as batatas são plantadas no solo mais fértil e
produtivo dos Estados Unidos e assim por diante.
Por
outro lado, há pessoas que estão o tempo todo comprando: precisam da cafeteira
nova porque ela faz o café mais frio que as outras, já na temperatura ideal
para ser tomado; o fato de ela custar R$ 999,00 não é nada face ao benefício de
tomar o café tão logo ele seja passado; e o que falar daquele novo tablet,
então? Tem incríveis duas funções a mais que a versão anterior pela
bagatela de R$ 2800,00 e, como ela é uma pessoa antenada com as novas
tendências não pode ficar sem, né? E, para tudo!! Ainda nem falamos da nova
cafeteria que abriu na esquina que é inspirada nas cafeterias francesas! Ela só
serve pão francês, baguette e brioches mas tem um francês (nascido na França,
mesmo) que toca gaita ao vivo! Pena que é mudo e ainda não pudemos vê-lo
falando francês.
Lembro
muito bem até hoje de um RH que trabalhei no qual todos ficavam o tempo todo
vendendo para outro; cada qual tinha o melhor plano de celular da sala, o
melhor aparelho, as melhores soluções para os problemas e por aí afora; não vendíamos
produtos ou serviços, vendíamos ideias uns aos outros. Assim é a vida, com os
dois grandes grupos sempre em interatividade, ora convergindo, ora divergindo,
pois as vezes o mesmo que compra é o que vende e o que vende também está
comprando algo; em cadeiras de marketing a professora sempre dizia que o que
era vendido não era o bife em si, mas o barulhinho da chapa e o vapor subindo;
para ser perfeitamente efetivo, tinha de ser no momento que a pessoa estivesse
morrendo de fome, de forma que aquilo se tornasse irresistível. A primeira
coisa a ser vendida é, inevitavelmente, a ideia.
Comparando os grupos, diria
que está mais vantajoso para os que vendem do que para os que compram, pois
aqueles que vendem estão vendendo com uma facilidade terrível; os que
compram, por outro lado, não estão tendo senso crítico em avaliar se é
realmente válido ou necessário comprar o que está comprando; há uma enorme discrepância
entre preço (aquilo que se desembolsa para obter o produto/serviço) e o valor (os benefícios que seriam percebidos com a posse e utilização do produto/serviço); como
disse antes, a venda hoje se dá no campo das ideias e em tempo de incertezas e
muitas mudanças o que não é parece ser e o que é parece não ser. Vender também
é uma arte de iludir e ludibriar (vide texto Glamour)
Dizem
que a profissão mais antiga do mundo é a prostituição e a segunda a advocacia,
mas eu diria que a mais antiga é vender, pois a serpente vendeu a Eva e esta
vendeu a Adão a ideia de que poderiam ser iguais a Deus. Há quem acredite nisto
ainda nos dias atuais, mas tal qual da primeira vez, esta ideia pode ser
vendida, pode ser comprada, mas não pode ser usufruída.
Samuel
Bonette