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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Feirão da ideia alheia

Ideias, vendas, conceitos, princípios, relacionamentos - www.samuelbonette.blogspot.com

             Boa noite amigos. Como é bom tirar férias e descansar. Retornei há pouco ao trabalho árduo e dignificante, o que também me possibilita pagar minhas contas, não nego. Entretanto, realmente gosto do que faço; como é bom trabalhar com paixão pelo que se faz! 



Lembro como se fosse hoje do dia em que decidi trabalhar com Recursos Humanos: estava viajando com meus pais na Free-Way, trajeto Torres – Porto Alegre, no dia em que nos mudamos para a capital dos gaúchos. Era um dia de muitas expectativas, pois estava indo para a “selva de pedra” que ao mesmo tempo era a terra das oportunidades; então, no banco traseiro – onde me encontrava – achei, entremeio a tantas outras coisas, um pequeno livro de capa azul chamado Administração de Pessoal e Recursos Humanos, da editora Senac. 



Apesar do mesmo contar com apenas 45 páginas, logo após a leitura este definiu naquela tarde meu futuro profissional. Tenho este livro até hoje, mas não sei exatamente o que diz nele; nunca o reli. Porém ele me impulsionou a querer trabalhar com RH; na época raciocinei que para conseguir era necessário fazer curso superior em Administração de Empresas e também corri atrás disto. Daí decorrem inúmeras situações na minha vida, mas não é o momento de ficar falando sobre isto; um dia eu conto para vocês.

Fato é que um livro de 45 páginas foi capaz de nortear minha vida profissional. Um pequeno livro foi capaz de causar muitas coisas na minha vida; isto me leva a pensar que o escritor me vendeu muito bem o seu peixe, como diz o ditado; talvez houvesse em mim alguma pré-disposição a inclinar-me para esta profissão, mas quem escreveu o livro conseguiu me convencer que era isto o que eu deveria fazer. 



Há pessoas assim: algumas que vendem e outras que compram. Conheço pessoas que vendem o tempo todo: estão sempre vendendo algo a nós; ele não tem uma TV, ele tem uma TV de LED da Samsung de 52 polegadas Full HD e que está integrada a um home theater em uma sala projetada para ser acusticamente igual a um cinema; o seu carro é melhor porque pagou R$ 102.309,45 a vista na concessionária mais badalada da cidade, aquela onde o cliente é saudado com coquetel de canapés e champagne; ou então é melhor porque é do mesmo ano mas ele pagou mais barato e está melhor conservado, tendo inclusive todas as revisões feitas na concessionária; a comida que ele faz é a mais saborosa pois é feita com azeite de oliva extra extra virgem de Israel, as azeitonas são colhidas no Camboja ao amanhecer e as batatas são plantadas no solo mais fértil e produtivo dos Estados Unidos e assim por diante.

Por outro lado, há pessoas que estão o tempo todo comprando: precisam da cafeteira nova porque ela faz o café mais frio que as outras, já na temperatura ideal para ser tomado; o fato de ela custar R$ 999,00 não é nada face ao benefício de tomar o café tão logo ele seja passado; e o que falar daquele novo tablet, então? Tem incríveis duas funções a mais que a versão anterior pela bagatela de R$ 2800,00 e, como ela é uma pessoa antenada com as novas tendências não pode ficar sem, né? E, para tudo!! Ainda nem falamos da nova cafeteria que abriu na esquina que é inspirada nas cafeterias francesas! Ela só serve pão francês, baguette e brioches mas tem um francês (nascido na França, mesmo) que toca gaita ao vivo! Pena que é mudo e ainda não pudemos vê-lo falando francês.

Lembro muito bem até hoje de um RH que trabalhei no qual todos ficavam o tempo todo vendendo para outro; cada qual tinha o melhor plano de celular da sala, o melhor aparelho, as melhores soluções para os problemas e por aí afora; não vendíamos produtos ou serviços, vendíamos ideias uns aos outros. Assim é a vida, com os dois grandes grupos sempre em interatividade, ora convergindo, ora divergindo, pois as vezes o mesmo que compra é o que vende e o que vende também está comprando algo; em cadeiras de marketing a professora sempre dizia que o que era vendido não era o bife em si, mas o barulhinho da chapa e o vapor subindo; para ser perfeitamente efetivo, tinha de ser no momento que a pessoa estivesse morrendo de fome, de forma que aquilo se tornasse irresistível. A primeira coisa a ser vendida é, inevitavelmente, a ideia. 



Comparando os grupos, diria que está mais vantajoso para os que vendem do que para os que compram, pois aqueles que vendem estão vendendo com uma facilidade terrível; os que compram, por outro lado, não estão tendo senso crítico em avaliar se é realmente válido ou necessário comprar o que está comprando; há uma enorme discrepância entre preço (aquilo que se desembolsa para obter o produto/serviço) e o valor (os benefícios que seriam percebidos com a posse e utilização do produto/serviço); como disse antes, a venda hoje se dá no campo das ideias e em tempo de incertezas e muitas mudanças o que não é parece ser e o que é parece não ser. Vender também é uma arte de iludir e ludibriar (vide texto Glamour)

Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a prostituição e a segunda a advocacia, mas eu diria que a mais antiga é vender, pois a serpente vendeu a Eva e esta vendeu a Adão a ideia de que poderiam ser iguais a Deus. Há quem acredite nisto ainda nos dias atuais, mas tal qual da primeira vez, esta ideia pode ser vendida, pode ser comprada, mas não pode ser usufruída.

Samuel Bonette