Sonhei
com o Paulo Brito. No meio da noite de ontem, estava eu na minha cama,
dormindo, e bem no meio da minha imitação de Paulo Brito, o mesmo surge num
Palio vermelho, me vê e começa a rir da minha imitação. Ainda tentei engatar
uma conversa, mas o mesmo manteve-se em seu caminho, sorriso nos lábios, misto de
desdém e diversão. Paulo Brito despropositado, invade meu sonho, não conversa
comigo e tão rápido quanto aparece, some.
Uma vez também sonhei em
ser escritor; tinha aproximadamente sete ou oito anos de idade e consumia
livros vorazmente. De tanto ler, julguei-me apto a escrever livros; comecei a
escrever uma história, mas queria publicá-la por uma grande editora. Enviei então
uma carta para a editora do livro que estava lendo naquela época (creio que era
a Editora Moderna). Para fechar negócio rápido, dispus-me a negociar
posteriormente a minha porcentagem sobre o lucro da vendagem do livro; algum
tempo depois, mandaram-me uma carta agradecendo meu interesse mas informando
que o quadro de escritores já estava preenchido. Como já fazem uns vinte anos,
eles devem estar quase se aposentando e então terei uma chance.
Outro sonho que tive na
vida foi ser músico. Aproveitando-me das condições favoráveis pré-existentes
(pai cantor e mãe instrumentista), comecei a aprender a tocar violão desde
cedo, acho que desde os cinco anos. Ganhei um violão Giannini de cor branco
gelo e bordas pretas e fui aprender fazer aulas com o bombeiro Cláudio, que era
também um músico de festa juninas, aniversário de crianças e comemorações de
escolas nas horas vagas. Infelizmente não soube lidar com a fama repentina e
estagnei no aprendizado. Praticamente um Jordy.
Por diversas vezes sonhei
com o que faria se ganhasse na Loteria. Em todas as vezes a minha primeira
atitude seria sair viajar sem falar nada a ninguém. Não pediria demissão do meu
trabalho, não diria aos vizinhos: “Viajarei por uns dias”, não comunicaria nada
a ninguém, simplesmente sumiria. Por convicção, entretanto, nunca sequer
apostei e também não apostarei; sou convicto de que cada centavo que gastar com
isto me fará mais pobre e não mais rico. Como diz a minha sogra: “Eles não
botam para perder”. Mas confesso que já sonhei com o que fazer com o dinheiro caso
ganhasse.
Aos 12 anos sonhei que
aos 18 moraria nos sobrados da Cohab, em Horizontina, teria um Fusca branco e
moraria sozinho. Dinheiro para isto não era problema, afinal era um sonho e
quando eu tivesse 18 anos as condições necessárias automaticamente surgiriam em
minha vida; nada poderia estragar meu sonho. O que atrapalhou foi que quando
tinha 13 anos nos mudamos para Torres. Detalhe. Um dia eu volto nos 18 e cumpro
o sonho.
Já sonhei em poder
adiantar o tempo na minha vida e passar do jardim de infância direto para o
terceiro ano do segundo grau, voltar o tempo na minha vida, passando da sétima
série para o jardim de infância, mudar o rumo da minha vida... Já tive inúmeros
sonhos, e todos eles sempre me levaram adiante, como fazem com todos os seres
humanos; o ser humano que perde os sonhos perde também a sua essência e razão
de seguir em frente. Ainda tenho tempo para ser escritor, músico ou morar nos
sobrados da Cohab, mas, Paulo Brito, por favor, pare de se intrometer nos meus
sonhos... o Maurício Saraiva está te chamando ali na esquina.
Samuel Bonette.