Dias
atrás li no Facebook o seguinte comentário: Qualidade de vida é lavar a louça
com água quente no frio. Devo admitir: é verdade! Isto deveria ser incluído
pela ONU na medição do IDH do Rio Grande
do Sul. Num estado que já registrou temperaturas de -9,8⁰C, realizar qualquer
atividade com água fria, no inverno, é um tormento. A frase foi formulada por
uma amiga minha, fluminense (que é o nome dado aos que nascem no estado do Rio
de Janeiro), que veio morar no Rio Grande do Sul e está convivendo com nosso rigoroso
inverno. Se para nós, nascidos e criados aqui já é ruim, imaginem para uma
pessoa que nasceu e foi criada num estado com temperaturas médias e máximas bem
mais altas que estas dos pampas.
Entretanto,
o que mais me chamou a atenção foi sobre o poder que pequenas coisas tem e
quanto podem nos satisfazer em determinados momentos. Desconsiderando a piada
que fiz anteriormente, sobre o IDH da ONU, entendo que muitas pessoas trocariam
somas enormes de dinheiro por alguns pequenos prazeres que temos
“gratuitamente” e nem sempre damos o devido valor: dormir uma boa noite de
sono, sair tranquilamente com amigos, poder ver o sol iluminando o rosto das
pessoas, receber carinho dos entes amados, ouvir o som das ondas do mar, etc. Realmente,
as vezes é preciso pouca coisa para fazer o ser humano feliz e pelo menos em
uma área específica das nossas vidas, até recebemos dinheiro para ser felizes:
no trabalho .
Sou
profissional da área de RH e, de forma recorrente, ocorre a discussão sobre o
quanto a satisfação e motivação advém simplesmente do salário percebido ou de
outras coisas, tais como ambiente de trabalho agradável, chefe legal,
recebimento constante de elogios, etc. De forma quase que imediata lembramos de
Maslow e sua teoria sobre as necessidades humanas. É interessante destacar que
não necessariamente elas seguem uma ordem ou hierarquização, como normalmente são
dispostas; por vezes um único fato ou objeto pode atender e satisfazer duas ou
mais necessidades que não necessariamente estejam na sequência da pirâmide.
Particularmente considero que o salário provém as necessidades mais
elementares, como as necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, etc.)
e de segurança (família, recursos, saúde, etc.); se o salário não satisfizer
estas condições, o sujeito facilmente trocará de salário, emprego ou empresa.
Por
outro lado, defendo que o salário não é condição única a ser considerada, pois
o trabalho é fonte de satisfação ou insatisfação pessoal e poucos (talvez
ninguém) aceitariam trabalhar em algo que considere insuportável para si, mesmo
que recebessem, para isto, uma alta soma em dinheiro. O dinheiro, como já
falei, é importante, mas não é tudo na carreira profissional; sentir o prazer de
atender a necessidade de outrem, cumprir a função social do trabalho, ter
ciência que é competente em algo, estar realizado em sua profissão, obter
conhecimento (entre outros tantos benefícios que o trabalho pode proporcionar)
é a mais-valia ao contrário, ou seja, um lucro que o trabalhador obtém e que
seu empregador jamais poderia, em hipótese alguma, pagar ou subtrair daquele.
Reduzir o trabalho a simples relação de força ou tempo dispendido x dinheiro pago
seria como reduzir a definição de um ser humano simplesmente ao seu nome,
desprezando e desvirtuando o real valor do trabalho.
Entretanto,
muito podem pensar que estou exagerando; para estes, faço uma consideração: infelizmente,
alguns humanos desprezam ou se esquecem destes pequenos prazeres, são
contaminados pela ganância e só dão o real valor a eles quando não os têm; não
pretendo discutir com ninguém sobre isto, reservando-me simplesmente o direito
de observar o seguinte trecho do discurso do Capitão Barbossa no primeiro filme
da franquia Piratas do Caribe: “Quanto mais gastamos, mais nos demos conta que
a bebida não satisfazia, a comida virava cinzas em nossas bocas o toda a
companhia do mundo não saciava nosso desejo [...] Fomos movidos pela ganância
mas agora somos consumidos por ela”.
Samuel
Bonette