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domingo, 25 de maio de 2014

Graças a Deus, amanhã é segunda!!

Segunda, trabalho, emprego, satisfação - www.samuelbonette.blogspot.com
Dias atrás li no Facebook o seguinte comentário: Qualidade de vida é lavar a louça com água quente no frio. Devo admitir: é verdade! Isto deveria ser incluído pela ONU na medição do IDH do Rio  Grande do Sul. Num estado que já registrou temperaturas de -9,8⁰C, realizar qualquer atividade com água fria, no inverno, é um tormento. A frase foi formulada por uma amiga minha, fluminense (que é o nome dado aos que nascem no estado do Rio de Janeiro), que veio morar no Rio Grande do Sul e está convivendo com nosso rigoroso inverno. Se para nós, nascidos e criados aqui já é ruim, imaginem para uma pessoa que nasceu e foi criada num estado com temperaturas médias e máximas bem mais altas que estas dos pampas.

Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi sobre o poder que pequenas coisas tem e quanto podem nos satisfazer em determinados momentos. Desconsiderando a piada que fiz anteriormente, sobre o IDH da ONU, entendo que muitas pessoas trocariam somas enormes de dinheiro por alguns pequenos prazeres que temos “gratuitamente” e nem sempre damos o devido valor: dormir uma boa noite de sono, sair tranquilamente com amigos, poder ver o sol iluminando o rosto das pessoas, receber carinho dos entes amados, ouvir o som das ondas do mar, etc. Realmente, as vezes é preciso pouca coisa para fazer o ser humano feliz e pelo menos em uma área específica das nossas vidas, até recebemos dinheiro para ser felizes: no trabalho .

Sou profissional da área de RH e, de forma recorrente, ocorre a discussão sobre o quanto a satisfação e motivação advém simplesmente do salário percebido ou de outras coisas, tais como ambiente de trabalho agradável, chefe legal, recebimento constante de elogios, etc. De forma quase que imediata lembramos de Maslow e sua teoria sobre as necessidades humanas. É interessante destacar que não necessariamente elas seguem uma ordem ou hierarquização, como normalmente são dispostas; por vezes um único fato ou objeto pode atender e satisfazer duas ou mais necessidades que não necessariamente estejam na sequência da pirâmide. Particularmente considero que o salário provém as necessidades mais elementares, como as necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, etc.) e de segurança (família, recursos, saúde, etc.); se o salário não satisfizer estas condições, o sujeito facilmente trocará de salário, emprego ou empresa.

Por outro lado, defendo que o salário não é condição única a ser considerada, pois o trabalho é fonte de satisfação ou insatisfação pessoal e poucos (talvez ninguém) aceitariam trabalhar em algo que considere insuportável para si, mesmo que recebessem, para isto, uma alta soma em dinheiro. O dinheiro, como já falei, é importante, mas não é tudo na carreira profissional; sentir o prazer de atender a necessidade de outrem, cumprir a função social do trabalho, ter ciência que é competente em algo, estar realizado em sua profissão, obter conhecimento (entre outros tantos benefícios que o trabalho pode proporcionar) é a mais-valia ao contrário, ou seja, um lucro que o trabalhador obtém e que seu empregador jamais poderia, em hipótese alguma, pagar ou subtrair daquele. Reduzir o trabalho a simples relação de força ou tempo dispendido x dinheiro pago seria como reduzir a definição de um ser humano simplesmente ao seu nome, desprezando e desvirtuando o real valor do trabalho.

Entretanto, muito podem pensar que estou exagerando; para estes, faço uma consideração: infelizmente, alguns humanos desprezam ou se esquecem destes pequenos prazeres, são contaminados pela ganância e só dão o real valor a eles quando não os têm; não pretendo discutir com ninguém sobre isto, reservando-me simplesmente o direito de observar o seguinte trecho do discurso do Capitão Barbossa no primeiro filme da franquia Piratas do Caribe: “Quanto mais gastamos, mais nos demos conta que a bebida não satisfazia, a comida virava cinzas em nossas bocas o toda a companhia do mundo não saciava nosso desejo [...] Fomos movidos pela ganância mas agora somos consumidos por ela”.



Samuel Bonette

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Rótulos

Rótulos, relacionamentos, essência, vida - www.samuelbonette.blogspot.com
Há uns dias atrás estava com alguns amigos meus em um uma hamburgueria, conversando. Após um determinado tempo, nos despedimos deles e a Bibiana fez um comentário sobre um deles, conhecido de longa data. Ela disse: “Fulano de tal é inteligente”. 

Após alguns segundos em silêncio, no qual fiz uma rápida recuperação mental dos assuntos que estávamos conversando, embora não discordasse dela, de forma alguma, não me ocorreu nada de espetacular que o mesmo tivesse dito nem assunto algum que pudesse ter ocasionado tal observação, uma vez que estávamos conversando assuntos corriqueiros, próprios de momentos de descontração. Curioso, perguntei então, porque ela chegara aquela conclusão ou fizera a observação naquele momento, ao que a mesma respondeu: “Os assuntos sobre os quais ele fala são interessantes, não me cansam, não são rasos”.

Para mim foi interessante e inesperada a observação feita. Pensei em quanto tempo, durante minha vida, não tive um olhar apurado para identificar características das pessoas. Não se trata de distinguir ou julgar o bom e o mau, o inteligente e o ignorante, o maldoso e o (sabe de nada) inocente, o competente e o incompetente, definitivamente. Antes, é conhecer, pelas ações e pelas decisões, ao longo do tempo, as características que as pessoas tem. Lembro que em 2010, findo um dia de trabalho, um colega da época me fez uma série de observações sobre outros colegas, relacionando ações que tinham tomado com características que tinham; naquela época me surpreendi porque até então nunca havia pensado desta forma sobre as pessoas. Basicamente não pensava sobre isto e as observações que ele fez me abriram um mundo de novas possibilidades, onde as ações das pessoas não ocorriam de forma desordenada ou aleatória, mas sim seguindo padrões de comportamento de acordo com suas características.

Entretanto, é tentador pensar que, por conhecer as características ou verificando as ações que as pessoas tomam, podemos conhece-las por completo ou conhecer suas intenções, de forma clara, distinta e infalivelmente correta. Destas avaliações muitas vezes extraímos conclusões e acabamos por rotular as pessoas, dizendo que o João é preguiçoso, a Maria é ingênua, o Pedro é insensível e assim por diante. Além de tentador, pode ser um tremendo erro e uma subestimação do ser humano, um ser com tanto potencial e possibilidades de melhorar, se regenerar, reinventar, eventualmente “tornando-se outro ser”.

Atualmente estou lendo o livro (bastante interessante e de leitura recomendável, diga-se de passagem) Conversas difíceis, que aborda, entre outras questões, os nossos julgamentos sobre as intenções de outrem. É inegável que a questão da “rotulação” acima descrita é característica congênita do ser humano, podendo ser verificada até mesmo em crianças e não é de todo ruim, pois através deste conhecimento podemos nos resguardar de algumas pessoas e nos precaver de seus comportamentos destrutivos; porém, como tenho abordado desde o início do texto, são características que as pessoas possuem; as más podem ser melhoradas, as boas podem se deteriorar e se extinguir, outras podem nos incomodar em um momento e noutro momento não fazer diferença, ou ser aceitáveis num grupo e noutro grupo não, enfim, infinitas possibilidades.

Obviamente que temos padrões dentro da sociedade do que é aceitável ou não, ético e anti-ético, moral e imoral, legal e ilegal. Porém, muitas vezes a questão é de aceitação do outro ser humano que, mesmo tendo cometido um ato totalmente perverso, ainda assim continua sendo um ser humano, tão sujeito a erros, acertos, necessidades físicas e emocionais quanto qualquer outro. Por vezes substituímos a compaixão pelo próximo por nossa sede de vingança travestida de sede de justiça; esquecemos que hoje é ele que está na cadeira dos réus, amanhã pode ser eu ou tu, e um dia seremos todos nós, indistintamente. Na linha de pensamento de um ditado popular, quando nos acharmos grandes, fortes, autossuficientes, poderosos, imbatíveis e invencíveis, devemos visitar um cemitério e contemplar quantos que foram assim antes de nós e qual seu final. Afinal, se a morte não faz sentido, a vida também não faz. Que possamos, todos, ser mais benevolentes com nossos semelhantes.



Samuel Bonette