Há um tempo atrás fui a um churrasco com amigos. Um deles levou
seu filho, que deve ter uns quatro ou cinco anos. Assim que chegamos na
churrasqueira, ele avistou um playground
e foi lá brincar. Nós ficamos ali, salgamos e espetamos a carne, fizemos o fogo
e colocamos a carne para assar, como bons gaúchos que somos. Passado um tempo,
o guri começou a me chamar para brincar e eu respondi que ele era “muito velho
para brincar comigo”. Ele ainda insistiu um pouco mas logo desistiu quando outra
criança aproximou-se com um cachorro. Sem cerimônia alguma, simplesmente foi ao
encontro daquela criança e em dois minutos já estavam conversando e brincando
como velhos amigos.
Quanta naturalidade em fazer novas amizades!
Notem que eu disse naturalidade, e não facilidade. Disse o senhor Aristóteles que o homem é um animal social, mas não definiu a intensidade desta socialização. Por vezes é realmente difícil a interação entre seres humanos, como posso notar em várias situações, mas não entre crianças. Para elas, o outro é simplesmente... outro. Em geral, não tem malícia, não tem maldade, não tem pré-conceitos, não tem dificuldade, meandros, melindres, burocracias, expectativas exacerbadas, formalidades, cerimônias, desconfiança ou outra coisa que as impeça de se aproximarem e começar uma conversa. Já adultos, os “super-humanos”, capazes, instruídos, experientes, não conseguem fazer isto de forma simples! É impressionante! Fico me perguntando em que momento perdemos esta habilidade.
Claro que, de forma alguma, desprezo o fato de que há pessoas mais
introvertidas e outras mais extrovertidas, o que facilita ou dificulta a tarefa
de fazer novos amigos (mas também me pergunto quanto que esta própria
característica é nata ou introjetada). Também não desprezo a maldade ou a
inclinação para fazer o mal que as pessoas tem e o quanto que isto nos limita
ou nos deixa “com um pé atrás” na hora de fazermos novas amizades, mas ainda
assim, não consigo entender a dimensão da naturalidade das crianças versus dificuldade dos adultos. Não me
parece razoável nem me é compreensível.
Talvez percamos esta naturalidade quando notamos que conseguimos
tirar vantagens dos outros e ao mesmo tempo não queremos que façam isto
conosco, ou, abstraindo e extraindo o conceito, quando queremos receber mais e dar
menos. Defendo a tese que, se eu for dar algo, esta minha atitude tem que ser
livre da expectativa de retribuição. Concordo que isto talvez não seja natural
do ser humano, mas vejo muitas pessoas frustradas porque dão algo e não recebem
o esperado em troca. Penso que deveriam estar felizes porque se propuseram a
fazer algo e atingiram seu objetivo; se houver retribuição, melhor ainda; se
houver a retribuição esperada, MARAVILHA!
Se não fazemos isto, nos tornamos ilhas. Nos tornamos como os países que querem manter sua balança comercial positiva então tentam comprar pouco e vender muito. Assim, se todos fazem isto, ninguém compra de ninguém e todos ficam estagnados. Amizades não funcionam assim. Não são quantitativas nem fórmulas matemáticas de soma, subtração, divisão e multiplicação. Entendo que deva haver doação sincera e, muito embora a maioria melhore com o tempo, também que não necessitam ser eternas ou intensas todo o tempo.
Me sinto, neste momento, agradecido por todos meus amigos.
Não
são poucos, não são todos da mesma profundidade, não posso os ver ou falar com
todos sempre, porém todos possuem sua importância, momento e lugar no meu
coração. Também não levo nenhuma mágoa ou ressentimento no coração nem mesmo daqueles
que em algum momento tiveram um comportamento ou atitudes duvidosas pois estes,
como diria o capitão Nascimento, me deram “um tombo para cima”. Só sigo em
frente, buscando recuperar a naturalidade em fazer amigos, aumentar minha
habilidade em valorizar as pessoas e ser feliz por tudo o que Deus me proporcionou
e continua proporcionando. Muito obrigado, muito obrigado!!
Samuel Bonette
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