Como
descrever o indescritível? No filme Cidade dos Anjos, o ator Nicholas Cage
interpreta um anjo, Seth, que não tem sensações tais como dor, fome, percepção
de sabor, etc. Lá pelas tantas, ele pede que sua interlocutora, uma médica
vivida por Nicole Kidman, descreva o sabor de uma pera. Ela lhe diz: “bom, é o
gosto de... uma pera! Não sabe qual o gosto que tem uma pera?“ Ele responde:
“Eu não sei qual o gosto que você tem da pera.”, ao que ela, finalmente, busca
descrever: “Doce, suculenta... macia quando se come, granosa como areia doce
que se dissolve na boca”.
A
descrição não faz o menor sentido para mim, e na história, Seth também não
saberia a sensação de nenhuma das coisas que foi usada para descrever a pera.
Ambos viviam em mundos diferentes e tinham conhecimentos diferentes a respeito
do mundo. Entretanto, apenas Seth tinha interesse em conhecer o outro lado,
isto porque ele tinha apenas o conhecimento intelectual, sabia como funcionava,
mas não tinha a experiência real, a sensação. A vivência traz situações reais
de dor mas também de satisfação, dependendo de como você encara a situação.
Há
uma história sobre três pedreiros, interrogados por um viajante que,
percorrendo uma estrada, deparou-se com uma obra em início de construção. Três
pedreiros, com suas ferramentas, trabalhavam na fundação do que parecia ser um
importante projeto. O viajante, aproximou-se curioso. Perguntou ao primeiro
deles o que estava fazendo. Estou quebrando pedras, não vê? Respondeu o
pedreiro. Expressava no semblante um misto de dor e sofrimento. Eu estou
morrendo de trabalhar, isto aqui é um meio de morte, as minhas costas doem,
minhas mãos estão esfoladas eu não suporto mais este trabalho, concluiu.
Não
satisfeito, o viajante dirigiu-se ao segundo pedreiro e repetiu a pergunta.
Estou ganhando a vida, respondeu. Não posso reclamar, pois foi o emprego que
consegui. Estou conformado porque levo o pão de cada dia para minha família.
Mas o viajante queria saber o que seria aquela construção. Perguntou então ao
terceiro pedreiro: O que está você fazendo? Este respondeu: Estou construindo
uma Catedral!
Apenas
o terceiro estava vivendo por algo que maior do que ele, por algo que
ultrapassaria gerações, por algo que faria pessoas do mundo inteiro deslocar-se
àquele local apenas para observar o fruto do seu trabalho.
E
nós? Como estamos vivendo? Estamos
vivendo uma vida que vale a pena viver ou estamos simplesmente nos refestelando
em nossos próprios desejos? Possuímos as coisas ou deixamos que as coisas nos
possuam? Estamos construindo uma catedral ou apenas aguardando – e às vezes,
abreviando – nossa hora de morrer?
As
perguntas são gerais; as respostas, individuais.
Lembro,
por último, as palavras do mestre Jesus: Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a encontrará. Pois, que
adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o
homem poderá dar em troca de sua alma?